Iniciei minha graduação na Escola de Música e Belas Artes do Paraná em 1972 e a conclui em 1975. Fui o sétimo colocado no vestibular, conforme a listagem dos resultados postada aqui graças ao amigo Sérgio Kirdziej, que a encontrou recentemente enquanto remexia antigos papéis guardados.

Desse período, quero iniciar recordando o VI Encontro de Arte Moderna, realizado em 1974. Neste ano, eu estava na diretoria do Diretório Acadêmico Guido Viaro, então presidido pelo amigo Elvo Benito Damo. Como já era tradicional, cabia aos membros da diretoria organizar, a cada ano, o Encontro de Arte Moderna. Para tanto, contribuíam os conselhos de colegas participantes na organização dos encontros anteriores e as orientações de alguns professores e professoras, principalmente, da professora Adalice Araujo, idealizadora do evento e incansável incentivadora das iniciativas de seus alunos.

Foi através dela, da professora Adalice, que soubemos, no início do primeiro semestre de 1974, da presença, em Curitiba, da artista plástica Josely Carvalho. O convite para que ela coordenasse as atividades do VI Encontro de Arte Moderna foi feito, numa noite, em reunião realizada no apartamento de sua mãe, onde estava hospedada, no Edifício Paraná, localizado na rua Visconde do Rio Branco esquina com Comendador Araújo. Além de mim e do Elvo, também estavam presentes à reunião Maria Odete Felipe e Maria Cristina Simon Fauquemont.

Semanas mais tarde recebíamos o projeto elaborado por Josely Carvalho em colaboração com a sua irmã, Jocy de Oliveira, com as atividades a serem desenvolvidas durante o evento. Entre os diversos preparativos para o encontro, coube a mim criar o cartaz para a sua divulgação. Considero este cartaz meu primeiro projeto de comunicação visual – atividade que anos depois passou a chamar-se design gráfico. Iniciava-se ali, paralelamente as artes plásticas, minha dedicação ao design gráfico, que continua até hoje.

Devo meu interesse por seguir a profissão de designer gráfico ao professor Ivens Fontoura. Na Belas Artes, o Ivens lecionava a disciplina de Composição, ofertada durante os quatro anos do curso. Era comum encontrá-lo na escola, envolvido em projetos gráficos, principalmente de cartazes. Nesta época, me incomodava a ideia de, como artista plástico, viver da elaboração de objetos únicos dirigidos a uma parte minúscula da sociedade. Idealista, me agradava mais a opção por uma atividade que permitisse a disseminação de ideias criativas em milhares de cópias, através de rótulos, embalagens, cartazes e outros objetos gráficos.

O que eu ainda não havia percebido, é que começava a tomar corpo – mais uma vez sob a liderança da professora Adalice Araújo – o projeto de criação do curso de Desenho Industrial, a exemplo da ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial, fundada no Rio de Janeiro em 1962. Mas esta é outra história.

O VI Encontro de Arte Moderna foi, segundo historiadores da arte paranaense, um dos mais importantes entre todos os realizados na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Durante nove dias – dos primeiros meses do governo do general Ernesto Geisel –, curitibanos ouviram Eric Satie, falaram de Marcel Duchamp, viram filmes de Charlie Chaplin, esculpiram com massa de pão, assaram e comeram as esculturas, jogaram xadrez, fizeram serigrafia, se irritaram com Eric Satie, se divertiram com carrinhos de rolimã, viveram e conviveram participando como coautores de diversas manifestações realizadas na rua e em espaços públicos.

De todas as atividades realizadas durante o encontro, a mais marcante e polêmica foi, sem dúvida, a execução da peça Vexations de Eric Satie. A obra formada por 32 compassos que se repetem 840 vezes foi executada por pianistas da Belas Artes que se revezaram durante mais de 18 horas ininterruptas. O piano foi instalado no quiosque que ficava em frente ao edifício Arthur Hauer, na rua Voluntários da Pátria, 368. A música era amplificada por autofalantes espalhados pela Boca Maldita.

A página na internet do Museu de Arte Contemporânea do Paraná registra as seguintes atividades e dados sobre o VI Encontro de Arte Moderna:

OBRAS RECENTES DE JOSELY CARVALHO – SERIGRAFIA EM TRANSPARÊNCIA
Exposição paralela ao VI Encontro de Arte Moderna
Parceria: Diretório Acadêmico Guido Viaro / EMBAP
Local: MAC/PR Data: 22/08 a 02/09/1974

SERIGRAFIA
Oficina paralela ao VI Encontro de Arte Moderna, coordenada por Josely Carvalho
Local: MAC/PR Data: 26/08 a 30/08/1974

JOGO URBANO – GINCANA AMBIENTAL
Coordenação de Josely Carvalho na programação do VI Encontro de Arte Moderna
Parceria: Diretório Acadêmico Guido Viaro / EMBAP
Data: 26/08 a 31/08/1974

HOMENAGEM A MARCEL DUCHAMP
Coordenação de Jocy de Oliveira e Josely Carvalho na programação do VI Encontro de Arte Moderna
Diversas atividades em um tempo-estrutura de 18 horas e 40 minutos, incluindo
solo de piano e projeção de slides e filmes, torneio de xadrez e Peça do Pão.
Local: MAC/PR e adjacências Data: 31/08/1974