Ele observou a mensagem surgir brilhante na tela: /desligar referência IP 9457001-CWB2015/Confirmar/. A resposta apareceu em seguida: /confirmado, processo em andamento/. Depois disso, um pequeno ponto luminoso permaneceu piscando no vazio. Em seguida, um formulário foi aberto e, uma a uma, suas lacunas começaram a ser preenchidas automaticamente.
Como era da sua função, o androide permaneceu conferindo a operação daquela unidade. Os primeiros campos completados referiam-se ao desligamento de um empregado da SpaceNet, indústria impressora de componentes para sistemas de automação, localizada em CWB, distrito industrial 35. Era do sexo masculino, 57 anos, casado, dois filhos, funcionário há 14 anos e cuja esposa fora desligada, da mesma empresa, há menos de um ano.
Completos os dados pessoais, uma lista das ações preliminares, necessárias para o desligamento, apresentou-se à sua frente: primeira providência, emitir ordem digital de demissão sumária ao departamento de recursos humanos da SpaceNet; segunda, deletar das redes sociais todos os dados a respeito daquele funcionário; terceira, bloquear suas senhas e acesso ao comércio, bancos e empresas de crédito; quarta, eliminar de toda a rede seu número digital de Registro Permanente; quinta, bloquear seu acesso ótico a rede celular de comunicação; sexta, distribuir um alerta de seu desligamento a toda a Rede; sétima, emitir ordem para a sua captura e confinamento.
Os procurados, em casos como esse, preferiam se entregar, não fugiam ou buscavam se esconder. Não havia como. Alguns, no entanto, atentavam contra a própria vida. Quando isso não acontecia, eram confinados em centros de trabalho e reinicialização. Raramente voltavam ao convívio coletivo anterior.
No presente caso, tratava-se de uma primeira falta, mas tinha sido grave. Em uma mensagem enviada a um amigo, interceptada no dia 7 de outubro de 2062, o condenado escrevera “ser do tempo em que os humanos podiam chutar um computador ou qualquer máquina”. Que eles as dominavam, ao invés de serem dominados por elas. O campo preenchido na sequência, confirmou ter infringido a primeira lei das máquinas: “um humano não pode agredir, mesmo verbalmente, qualquer máquina ou, por inação, permitir que uma máquina sofra algum mal funcionamento”.
Na sequência, o androide acompanhou, um a um, os caracteres iluminarem uma última linha: /desligamento referente a este registro completado/. Por fim, validou o resultado daquela unidade e passou para a seguinte. Por coincidência, esta também estava procedendo a um desligamento. Outro humano em outra empresa sendo substituído por um androide como ele, um modelo Asimov, recém lançado.
Ô Humberto, quer assustar a gente, é?!
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